Filósofo da natureza, teólogo e, acima de tudo, poeta, Xenófanes (século VI a. C.) é um exemplo notável de dedicação à literatura. Segundo nos informa numa de suas elegias, durante 67 anos, depois de completar 25, voltou-se integralmente para a divulgação de sua obra pela Magna Grécia. Atribui-se-lhe a autoria dos primeiros versos satíricos de que se tem notícia na história literária. Mas seu interesse não se restringe a esse tipo de composição. Se, por um lado, é bastante mordaz quando critica o antropomorfismo dos deuses homéricos e hesiódicos, por outro, exibe um tom sereno e elevado, como na extraordinária composição de abertura, referente à conduta simposial. Xenófanes parece ter sido também um dos primeiros autores gregos (se não o primeiro) a elaborar uma concepção religiosa monoteísta. Deve-se registrar ainda que, antes dele, a diferença entre “opinião” e “conhecimento”, tão cara ao pensamento ocidental, não havia sido formulada. E se conhece bastante bem o desdobramento dessa cisão na elaboração posterior de conceitos como “essência”, “multiplicidade” e “consciência”.
Essa complexidade temática transparece numa linguagem rica e numa dicção variada, que os tradutores costumam preterir quando trasladam em prosa os fragmentos, todos eles poéticos, que chegaram até nós do escritor. A presente edição integral da obra supérstite de Xenófanes procura sobretudo recuperar essa dimensão esquecida de seu trabalho.
Utilizando recursos da poesia moderna, como a espacialização, busca inserir sua produção na corrente literária de hoje. Nesse sentido, o emprego da linguagem digital na versão de parte dos textos tem o objetivo precípuo de ampliar seu poder de comunicação, revelando a atualidade de um autor banalizado e obscurecido por certos hábitos de leitura da filologia convencional.
ramos
dionísios
no
círculo
da
morada
estática
Xenofanias (2006) – tradução e introdução de Trajano Vieira
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