A Torquato – Horácio
Dissipa a neve, a grama torna ao campo, as folhas
recobrem o arvoredo;
a terra altera a face, o rio se precipita
no leito que deflui.
A Graça ensaia a dança audaz desnuda, as ninfas
e a dupla irmã ao lado.
Não creias que és eterno, adverte o ano e a hora
que usurpa os belos dias.
O Zéfiro mitiga o gelo, a primavera
cede ao verão, que finda
assim que amadurece o outono porta-fruta,
e volta a neve estéril.
Aos danos celestiais reparam os luares
ágeis, mas nós descendo
onde se encontram Ancus, Tulo e o magno Eneias,
somos poeira e sombra.
Alguém dirá que o tempo do amanhã os deuses
somam aos dias de hoje?
Do que terias dado ao caro amigo, ávidos
herdeiros se apropriam.
Sem vida, assim que Minos pronuncie a esplêndida
sentença sobre ti,
eloquência, nobreza, virtude, Torquato,
nada te reanima.
Do escuro ínfero Diana não resgata
Hipólito impoluto,
Teseu não rompe o ferro que aprisiona ao Lete
o fraterno Pirítoo.