Falar do poder cênico de Édipo Rei, de sua performance em um teatro em ato, é, aqui, no Brasil, considerá-lo sobretudo em português, quer dizer, em uma tradução e no que ela se mostra capaz não só de restituir, como de vivificar, quando colocada nos lábios de um ator que se exprime nesta língua e que deve fazer falar o seu gesto, a sua linguagem representativa neste mesmo idioma, sem perder a relação com a fala de origem, no caso o grego. E tal é justamente uma das preocupações fundamentais de Trajano Vieira na sua marcante transcriação da peça de Sófocles, que vem integrar a Coleção Signos da Editora Perspectiva.
J. Guinsburg
Édipo:
Descendentes de Cadmo! Crianças, moços!
Por que trazeis à testa ramos súplices,
prostrados, nos assentos dos altares?
Vapor de incenso assoma em meio à pólis,
assomam cantos fúnebres, lamentos.
Considerei injusto ouvir dos núncios,
por isso eu vim, meninos, pessoalmente,
Édipo, cujo nome pan-aclamam.
Fala, decano! Tens a primazia
da palavra. Que humor vos põe assim?
Temor? Anseio? O meu intuito é dar
total auxílio. Um homem insensível
seria, alheio à ocupação das sedes.
Édipo Rei de Sófocles (2001) – tradução e introdução de Trajano Vieira
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