Édipo em Colono, que a editora Perspectiva traz ao público de língua portuguesa, com introdução e primorosa tradução de Trajano Vieira, é a última tragédia de Sófocles. Escrita no fim de sua vida, dois anos antes da queda de Atenas diante de Esparta na Guerra do Peloponeso, e vinte anos depois de Édipo Rei, mostra o drama de um homem velho, cego, cansado, indignado e inflexível diante da ambição que corrói o poder e o domínio de sua família em Tebas, cidade que o baniu e agora o requer como herói. Herói civilizador, simboliza os valores cosmopolitas de Atenas, a cidade que ele escolheu salvar.
Édipo:
Filha de um velho enceguecido, Antígone!
Aonde chegamos, quem habita a pólis?
Alguém acolherá com dons exíguos
Édipo, agora, um vagamundo, em casa?
Requeiro um mínimo e consigo um ínfimo
do mínimo pedido. A mim me basta.
Pathos, o padecer, me ensina, e Cronos,
delongado magíster, e a nobreza.
Se um posto avistas, filha, num recinto
pisado por humano, em bosque sacro,
me assenta ali. Mister é conhecer
o logradouro. Forasteiros, quanto
os cidadãos nos ditem, cumpriremos.
Antígone:
Ó malfadado pai! Diviso mal
as torres protetoras da cidade.
Vinhas viçam, olivas, louros: este
sítio é sagrado. Trinam rouxinóis
na parte interna, arrufam a plumagem.
Dobra os membros na rude penha! Sênex,
padeces da distância percorrida.
Édipo em Colono (2005) – tradução e introdução de Trajano Vieira
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